quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O príncipe que aprendeu amar

Era uma vez um reinado, desses iguais a tantos outros, com um príncipe, um cavalo branco e muitos, mas muitos empregados. O jardim encantava com suas cores, e o sorriso era ordem intacta em dias de sol e chuva. Também seria igual a tantos outros, se não fosse pela postura de seu regente.
Aquele era um ser inigualável – um príncipe órfão que recebera de seus pais a árdua tarefa de mandar. E mandar era o que fazia de melhor. Era a única qualidade da qual se vangloriava em suas belíssimas canções.
Criatura pequena em estatura, mas Hercúleo em ações. Deliberava e pronto! Lá estavam todos aos seus pés, cumprindo suas obrigações. E entre mandos e desmandos, naquele dia, o reinado foi abalado por um deslumbre.
- Ordeno que todos os homens e mulheres do meu reinado deixem de amar!
- E como faremos isso? – perguntou um pobre qualquer.
E do alto de sua torre, respondeu ele:
- Deixem de amar! Os olhos não deverão mais brilhar, esqueçam as músicas, dominem as batidas de seus corações!
Pronto! A desordem se instalou pelos quatro cantos daquela região. Não havia silêncio, não havia tolerância, não havia sentimento que bastasse .
Durante anos, as flores perderam seu perfume e os pássaros já não encantavam com suas melodias. Entre as borboletas ouviam-se murmúrios de que já não deveriam passear por ali, pois poderiam se contaminar com tamanha crueldade. As árvores desistiram até de crescer e dar frutos, já não recebiam a atenção dos casais enamorados que aos seus pés trocavam suas declarações de amor e juras eternas.
Fechado em sua ganância e alheio a qualquer tipo de pedido, seguia o nosso príncipe.
- Fechem as portas!
- Tragam a minha refeição!
- Chamem o bobo da côrte!
Pobres servos, mal entendiam a razão de tantas ordens. Só podiam mesmo ouvir e cumprir. Entendiam aos poucos quem é que mandava por ali.
E assim foi, que dia após dia, a amizade entre eles se deteriorava, e aquilo que era amor transformou-se em revolta e indignação. Resolveram, então, contrariar as ordens de seu príncipe,confabularam uma grande festa em celebração à alegria, passaram dias costurando, lavando, arrumando, enfeitando aquele reinado e no dia combinado, podia-se ver novamente o aroma doce e encantador daquele povo.
O príncipe que nem mesmo havia sido convidado sentiu-se traído e resolveu se fechar em seu castelo. Gritou, brigou, esperneou, mas nada conseguiu mudar. Sua voz já não ecoava, suas leis não eram mais respeitadas.
No desejo de controlar aquela situação o pequeno foi ao encontro do sábio Loui – aquele sim, conhecia todas as coisas. E ao contar sua terrível jornada foi por alguns minutos observado por ele que apenas cortejou-lhe com uma única frase:
- O sentimento que se dá, deve ser imensamente superior ao que se pretende!
O caminho de volta nunca fora tão longo e a cada cavalgada seu pensamento parecia lhe consumir. Sentia o vento em seu rosto e todo encanto dos raios de sol, pudera sentir também um cheiro há muito esquecido, parecido com o odor dos biscoitos quentinhos preparados no final de uma tarde chuvosa. Lembrou-se do afago de sua mãe e do sorriso largo de seu pai que insistia em fazê-lo andar. Pôde vibrar com as batidas de seu coração, e finalmente percebera o encantamento da felicidade.
Descobriu, enfim, que mandar não é sinônimo de amar, e que quando se ama não há hierarquia, apenas se ama. E que talvez esta seja a chave de todo entendimento.

Lucilene Bonafé

Um comentário:

  1. Se parece com o nosso dia-a-dia, tentamos controlar o tempo, e esquecemos de deixar um pouco dele para as coisas sem controle, e no final, nós ficamos sem nada.

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