segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A caixinha de segredos

Lá estava ela, a garota dos olhos de mel, entre seus amiguinhos de sala. Contavam-se dois ou três, pois o restante distanciava-se devido ao seu importúnio sentimento de timidez.
Os bancos largos e incômodos eram cúmplices de grandes ideias, de grandes sonhos. Desejava algo inusitado, assim como, inusitado era seu zelo por aquilo que curiosamente carregava - uma caixinha dourada, dessas que não se vê muito por aí, mas que para ela tinha tamanho valor quanto sua fiel vontade de fazê-la viver.
Os pensamentos voavam ao som melódico de vozes que insistiam em lhe trazer de volta. Vivia entre nuvens e estrelas, e fazia desse, o seu ambiente particular. Às vezes, apertava tanto sua pequena caixinha, como se dando-lhe amor, pudesse fazê-la cumprir. E era assim que amava.
Um belíssimo dia,desses que encontramos em romances, deixou solitária sua companheira, correu para buscar novas fitas, novas rendas, novos enfeites que pudessem abrilhantar sua caixinha. Precisava renová-la, pois também tinham sido renovadas as esperanças. Encantou-se tanto com as cores, com as formas, com as flores que lhe apresentaram, que se deixou embriagar pela novidade. E por alguns momentos deu-se a esquecer de sua amiga solitária.
Ao reencontrá-la, percebera que algo havia mudado, algo havia se perdido entre as duas. Abraça-la não fora suficiente para trazê-la à vida.
Ninguém jamais tinha ousado tanto, ninguém jamais tinha chegado tão perto de pertencê-la. Mas, aquele foi um dia especial - não exatamente no contentamento.
Roubaram-lhe os sonhos, o tesouro precioso havia se esvaziado, não sobrou nada além de uma caixa - simples e dourada.
Para a pobre menina, que teimava em observá-la em seu contorno, em sua profundidade, em sua forma e velha cor; restou também um vazio, que saltava-lhe além do ser e uma ingênua esperança de que pudesse preenchê-la novamente. Pobre menina, pobre também era sua caixa.
Trazia nela todos os sonhos do mundo. Perderam-se todos, em absoluto silêncio.

Lucilene Bonafé

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