domingo, 7 de novembro de 2010

Ler...

"Ler significa reler e compreender, interpretar. Cada um lê com os olhos que tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam.
Todo ponto de vista é um ponto. Para entender como alguém lê, é necessário saber como são seus olhos e qual é a sua visão de mundo. Isso faz da leitura sempre uma releitura.
A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam. Para compreender, é essencial conhecer o lugar social de quem olha. Vale dizer: como alguém vive, com quem convive, que experiências têm, em que trabalha, que desejos alimenta, como assume os dramas da vida e da morte e que esperanças o animam. Isso faz da compreensão sempre uma interpretação."
(Leonardo Boff)

Soneto de separação - Vinicius de Moraes

De repente do riso fez-se pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
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Mais conhecido pelas suas composições musicais, Vinicius de Moraes iniciou sua obra poética na década de 1930, com a publicação de "O caminho para a distância (1933)". Sua poesia, naquele momento, conservava ainda uma clara influência da estética simbolista.
Nas obras iniciais, Vinicius aproximou-se de temas como a religiosidade e a angústia associada à oscilação entre matéria e espírito.
Aos poucos, porém, seu interesse voltou-se para aspectos do cotidiano e para o relacionamento amoroso. Nos seus inúmeros poemas de amor, a influência da poesia camoniana é muito forte e pode ser observada na tentativa de analisar o amor, na preferência pelo soneto como forma poética,e no uso frequente de antíteses para expressar as contradições próprias desse sentimento.
Em muitos sonetos de Vinicius de Moraes, o amor é apresentado como um sentimento poderoso e fugaz. É essa ideia central do "Soneto de separação", em que as antíteses mostram o impacto da perda do amor na vida das pessoas: o riso torna-se pranto, traz a dor, a tristeza. A tragédia, que provoca o espanto, é constatar que toda essa transformação acontece de repente, em um breve instante.

Cantiga - Cecília Meireles

Ai! A manhã primorosa
do pensamento...
Minha vida é uma pobre rosa
ao vento.

Passam arroios de cores
sobre a paisagem.
Mas tu eras a flor das flores,
imagem!

Vinde ver asas e ramos,
na luz sonora!
Ninguém sabe para onde vamos
agora.

Os jardins têm vida e morte,
noite e dia...
Quem conhecesse a sua sorte,
morria.

E é nisso que se resume
o sofrimento:
cai a flor, - e deixa o perfume
no vento!

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Primeira mulher a alcançar destaque no cenário da poesia brasileira, Cecília Meireles escreveu vários livros de poesia em que desenvolveu as tendências da corrente espiritualista da segunda geração.
Na obra "Cantigas", a vida é apresentada metaforicamente como uma rosa. O eu lírico cria a analogia a partir da ideia de que os seres humanos se apegam às aparências (à imagem), que estão destinadas a desaparecer com a passagem do tempo. A regularidade dos ciclos da natureza (vida e morte, noite e dia) comprova a transitoriedade da vida. Na última estrofe, revela-se a razão do sofrimento humano: as lembranças do passado (o perfume da rosa) continuam a existir, mesmo depois da destruição da forma que as gerou.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Óbito do autor

[...] expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que chovia -peneirava- uma chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e tão triste, que levou um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa ideia no discurso que proferiu à beira de minha cova: -"Vós que o conhecestes, meus senhores,vós podeis dizer comigo que a natureza parece estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que tem honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e má que lhe rói à natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado".
Bom e fiel amigo! Não, não me arrependo das vinte apólices que lhe deixei.
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Na cena, Brás Cubas narra seu próprio enterro. Quando fala dos poucos amigos que acompanharam a cerimônia, destaca um dos "fiéis de última hora" que chegou a comparar o estado da natureza à tristeza provocada pela morte de Brás. O comentário final do narrador revela a força da sua ironia e desnuda os interesses do amigo "fiel": "Não, não me arrependo das vinte apólices que lhe deixei". Essa observação obriga o leitor a reavaliar os motivos que levaram esse "amigo" a fazer um discurso emocionado. Na verdade, era alguém movido somente por interesses finaceiros (iria herdar algumas apólices) e não por um sentimento sincero.
Em todas as obras de Machado de Assis são inúmeros os exemplos de observações como essa, o que faz com que a ironia seja uma das características definidoras do seu estilo literário.

A eficácia das palavras certas

Havia um cego sentado numa calçada em Paris. A seus pés, um boné e um cartaz em madeira escrito com giz branco gritava: "Por favor, ajude-me. Sou cego".Um publicitário da área de criação, que passava em frente a ele, parou e viu umas poucas moedas no boné. Sem pedir licença, pegou o cartaz e com o giz escreveu outro conceito. Colocou o pedaço de madeira aos pés do cego e foi embora.
Ao cair da tarde, o publicitário voltou a passar em frente ao cego que pedia esmola. Seu boné, agora, estava cheio de notas e moedas. O cego reconheceu as pisadas do publicitário e perguntou se havia sido ele quem reescrevera o cartaz, sobretudo querendo saber o que ele havia escrito.
O publicitário respondeu: "Nada que não esteja de acordo com o conceito original, mas com outras palavras". E, sorrindo, continuou o seu caminho. O cego nunca soube o que estava escrito, mas seu novo cartaz dizia: "Hoje é primavera em Paris e eu não posso vê-la".

Orações Coordenadas

ORAÇÕES COORDENADAS _________________________________________ Exercícios Classifique as Orações Coordenadas Sindéticas: O1 - Nã...